Reprodução do texto publicado no dia 3 de março de 2011, na coluna do jornalista Elias Pinto (foto), do Diário do Pará.
1 Era uma noite de domingo, 30 de janeiro, para segunda-feira. Três jovens, mulheres, na faixa dos 23 a 25 anos, marcaram um encontro para se divertir, conversar, relaxar, enfim, em torno de alguns chopes. Ora, estamos em pleno século XXI, as mulheres ganharam independência financeira, saem e curtem a noite, em geral, bem melhor que nós homens, que às vezes exageramos na bebida.
2 Como local escolheram um bar que promete, na internet, além da localização privilegiada, um ambiente descontraído, atendimento vip e atrações diversas que agradam públicos variados, “de gente bonita”. Ótimo. Perfeito.
3 Realmente, o bar estava tomado pelo “público variado”, tanto que as três mocinhas, todas com curso superior completo, tiveram de se acomodar no balcão. Pediram os chopes, mas nem no balcão, movimentado, encontraram espaço para deixar os copos. Resolveram pedir licença aos ocupantes da mesa ao lado, para repousar as tulipas. Sem problema.
4 O problema veio depois. Os ocupantes da mesa retiraram-se. Foram embora. Primeiro saíram dois ou três, em seguida, os demais. As três permaneceram em pé. Minutos depois, chegou o garçom. Perguntou às jovens pelas pessoas que estavam sentadas ali. Disseram que não sabiam do paradeiro delas, não as conheciam. O garçom disse que elas, as três meninas, teriam de pagar a conta, pois a turma havia dado no pé. Como se vê, é realmente um “público variado” que frequenta aquele bar.
5 As amigas repeliram a cobrança injusta. Mostram o comprovante de pagamento. A cada chope pedido, pagavam no ato. O garçom, obviamente, queria livrar sua cara, transferir o calote para as três amigas, que decidiram ir embora. O garçom chamou os seguranças da casa, que as impediram de sair. Para isso, agarram, com força, o pulso das meninas, machucando-as. Chegaram a segurá-las pelo pescoço, numa atitude covarde e infame, principalmente quando o agredido é mulher, três senhoritas.
6 Elas apelaram para um dos supostos donos da casa, que deu de ombros. Tinham de pagar para sair. Estava configurado o cárcere privado. Disseram que chamariam a polícia. Seus carcereiros não acreditaram. Uma delas foi até o banheiro e ligou para a Seccional do Comércio. Os policiais vieram e constataram que elas eram inocentes da acusação. Perguntaram se queriam apresentar queixa na delegacia. Elas concordaram. Era aproximadamente uma hora da madrugada de segunda-feira, 31 de janeiro.
7 Depois de uma noite insone – expostas que foram à humilhação, agredidas moral e fisicamente, diante de dezenas de pessoas –, duas delas dirigiram-se, no início da tarde daquele mesmo dia, ao Instituto Médico Legal, a fim de se submeter ao exame de corpo de delito, atendendo requisição da 6ª Seccional Urbana do Comércio.
8 Na sexta-feira seguinte, em sua coluna aqui no DIÁRIO, a colega Esperança Bessa noticiou o episódio, sem dar o nome do bar, mas informando sua localização: Wandenkolk com Senador Lemos. Estampo, agora, o nome do bar: Footbar. E uma das jovens é minha filha.
9 Aguardei o resultado do laudo, que saiu na semana passada. O “histórico” do laudo da colega da minha filha registra: “a pericianda diz-se vítima de agressão física, com tentativa de estrangulamento desferida por um garçom de uma festa dançante”. O da minha filha consta: “a pericianda diz-se vítima de agressão física, com tentativa de estrangulamento, desferida por um segurança no interior de uma festa dançante”. No primeiro caso, a “descrição” do perito oficial é a seguinte: “ao examinar, verificamos edema traumático na região posterior do pescoço”. No da minha filha, lavrou-se: “ao examinar, verificamos equimose violácea sobre edema traumático na região lateral à esquerda do pescoço. Edema traumático na região posterior do terço distal do antebraço esquerdo”. Acho que não é preciso traduzir a linguagem técnica. Quanto aos “quesitos da lei” que devem ser respondidos, o laudo conclui, nos dois casos, quanto aos dois primeiros quesitos: “Há ofensa à integridade corporal ou à saúde do(a) periciando(a)”. Resposta: “Sim”; “Qual o instrumento, ação ou meio que a produziu?” Resposta: “Ação contundente”.
10 Acho que não preciso traduzir minha revolta e indignação como pai. Minha filha, de 24 anos, é uma jovem adorável, determinada (foi ela que chamou a polícia). Na noite de ontem, na Universidade Federal do Pará, colou grau, formando-se como contadora. As marcas físicas daquela noite já se apagaram de seu corpo. Mas não as marcas da indignidade, da covardia de que ela foi vítima, ao lado de suas colegas.
11 Anotem o nome deste local: Footbar. Garçons e seguranças dessa casa não costumam respeitar os jovens que vão lá para se divertir, não para serem acusados injustamente e agarrados violentamente pelo pulso, esganados e mantidos sob cárcere ilegal. E sob o olhar complacente do patrão. É esse o tratamento vip anunciado? E não fizeram isso com três rapazes atléticos, fortes, da nossa juventude marombeira. Mas com três jovens mulheres, às quais devemos, no mínimo e sempre, comportamento de cavalheiros, seja-se garçom, segurança ou dono de bar. O caso foi encaminhado à justiça.
Garçom e seguranças de um bar, sob o olhar complacente de quem devia zelar por sua clientela, agridem moral e fisicamente três jovens mulheres.
Garçom e seguranças de um bar, sob o olhar complacente de quem devia zelar por sua clientela, agridem moral e fisicamente três jovens mulheres.
3 comentários:
Inevitavelmnte em algum momento de nossas vida, sofremos algum tipo de covardia.E contrariando a muitos , a gressão verbal, é muiot mais dolorasa que a física.
Não se pode aceitar tal atitude , essa cena ficará por muito tempo gravada na cabeça dessas moças.Um trauma . Uma revolta da impotencia que nos apresenta algumas situaçoes, e que jamais poderimos supor ter que passar .A impunidade, a falta de respeito para com o proximo estar a se tornar algo tão presente nos tempos atuais. Algo comum.
Que absurdo!!!!!!!! sem comentários, esse bar está descartado do meu roteiro. Coisa mais ridícula, esse pessoal não tem a mínima noção de civilidade, desde o segurança até o patrão. Aulas de bons modos cairiam bem pra eles, no entanto, reza o ditado popular que "papagaio velho não aprende a falar" rsrsrsrs
Com atraso leio esse relato macabro. Para mim, pardieiro não é só um lugar esculhambado estruturalmente, é um lugar esculhambado gerencialmente, como essa bosta do Footbar. Essas coisas me enchem de ódio e indignação. Vamos fazer uma campanha contra essa espelunca.
Pelo amor de Deus; nunca mais ponham so pés lá!!!. Ninguém...! nunca...! Ainda bem que eu não estava lá. Sou passional e feroz quando assisto a essas injustiças e grosserias e quem acabaria no I M L seria o dono desse pardieiro...
Postar um comentário