A XIII Feira Pan-Amazônica do Livro, patrocinada pelo governo do Estado do Pará, que está sendo realizada em Belém até o dia 15 de novembro, parece estar tentando desconstruir no imaginário do povo paraense, a bela imagem que o mundo inteiro tem da França. Com atrações pobres e desinteressantes, o que menos se vê nesta Feira do Livro é a verdadeira e bela França. Seja a dos dias atuais, ou mesmo a antiga. Visitada por turistas do mundo inteiro, e conhecida como um dos mais agradáveis lugares do mundo para se viver.
Basta um simples passeio pelos estandes e mais alguns minutos tentando assistir a programação de “homenagem”, para se ver um país ganancioso, antipático e monótono. Fiz isso, na noite de segunda-feira e fiquei indignado.
Comecei o meu roteiro pela única livraria especializada em livros escritos em francês. Mas os preços dos livros são tão aviltantes que o espaço estava praticamente vazio de compradores. Apenas alguns curiosos, como eu, tentavam encontrar coragem para gastar, pelo menos, 10% do salário mínimo, na compra de um único romance. Preço brasileiro. Porque na França, onde o salário mínimo atual está cima dos mil euros (exatamente 1037,53 €), os livros ficam entre 6 e 12 euros, portanto, menos de 2% do salário do trabalhador. O que explica os resultados das pesquisas realizadas pela Câmara Brasileira do Livro e por outras entidades ligadas a editores, que mostram que o brasileiro lê, em média, 1,8 livro por ano, enquanto que na França, o índice é de 7.
Logo adiante, assisti a uma cena patética. No estande do único curso de língua francesa presente no evento, uma faixa de segurança, impedia o acesso das pessoas comuns, para que os dirigentes do curso pudessem servir um coquetel a um seleto grupo de convidados. Vi a cena e fiquei chocado. Os sortudos se acotovelavam dentro do pequeno espaço, mastigando unha de caranguejo e bebendo guaraná num pequeno copo descartável, enquanto outros milhares passavam ao redor, apenas observando a cena, impedidos de participar do banquete. Este curso, aliás, tem as mensalidades mais caras do mercado. Um sério obstáculo para quem quer aprender francês e tem poucos recursos.
E as atrações culturais? Mon Dieu! Em um país, como a França, repleto de shows musicais, espetáculos teatrais, comédias, filmes, etc, etc, etc, o que os organizadores desta Feira escolheram para nos mostrar? Óperas italianas e alemãs projetadas em telões de cinema. Sem opção, até tentei assistir a uma dessas filmagens, que tem duração de duas horas e meia, mas por causa das desconfortáveis cadeiras de madeiras do Espaço Mário de Andrade, não fiquei nem trinta minutos. O mais curioso é que, quando em 2005, o Brasil foi homenageado pela França, os franceses assistiram shows de bandas e atores da melhor qualidade, que iam se apresentar nas ruas e nos palcos de todo o país, divulgando o melhor da cultura brasileira. Um espaço privilegiado, dado pelo governo Francês, para a divulgação da arte do nosso país.
A França apresentada na Feira do Livro paraense não é a mesma França que eu tive a oportunidade conhecer recentemente, indo aos shows e ouvindo cantores como Emmanuel Moire, Olivia Ruiz, Pascal Obispo, Isabelle Boulay, Laurent Voulzy ou mesmo bandas como Noir Désir e Beau Dommage. E assistindo espetáculos musicais, como Le Roi Soleil e Le Pétit Prince.
O que se vê nesta Feira não é, nem de longe, uma homenagem à França. Mas uma tentativa de torná-la insuportável para quem não a conhece.
2 comentários:
A postagem não foi excluida..
Tu ficaste indignado com a Feira, e digo que tudo é uma questão de visão e conhecimento.
Eu como não conheço a FRANÇA e sua cultura ficaria deslumbrada com tudo oferecido, talvez chocada com os preços do livros ..e frustada por não entender o francês..quando não se domina um idioma , e como se fossemos cegos e surdos.
Escrever e falar "bem"o português do BRASIL..BRAZIL..já e bem difícil.
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